Floripa em 3x4

RADILSON CARLOS GOMES

CURADORIA DE ENELÉO ALCIDES

ESPAÇO FERNANDO BECK | 22 DE MARÇO A 26 ABRIL DE 2019

Mil rostos anônimos revelam a diversidade étnica e cultural de quem passa, vive e constrói a identidade de Florianópolis. Utilizando três câmeras lambe-lambe, com processo químico de revelação em preto e branco, o fotógrafo se posicionou em praças, ruas e avenidas de Florianópolis, conversou com o público e registrou seus retratos. Em processo aberto à colaboração, ao longo de 12 meses de trabalho, também coletou relatos e impressões sobre a cidade. Por entre mosaicos de identidades individuais, o artista compôs um grande retrato da capital catarinense. Radilson Carlos Gomes é formado em História e especialista em Comunicação e Saúde. Começou sua carreira como fotógrafo em 1986, em Brasília. Atualmente é professor de Fotografia em Florianópolis.
Mais sobre a lambe-lambe

A máquina lambe-lambe surgiu no começo do século 20 no Brasil com o fotógrafo Francisco Bernardi que queria criar um estúdio portátil, carregando num caixote tudo que fosse necessário à produção instantânea das fotos. O equipamento se popularizou no Brasil, principalmente no início da década de 40 com a criação da Consolidação de Lei de Trabalho (CLT), em 1º de maio de 1943, quando a fotografia da carteira de trabalho e das identidades de boa parte da população era registrada com estas máquinas.

Serviço:

O que: Abertura da exposição Floripa em 3 x 4, de Radilson Carlos Gomes
Quando: 22 de março, sexta-feira, às 19h
Local: Fundação Cultural Badesc – Rua Visconde de Ouro Preto, 216, Centro – Florianópolis/SC
Telefone: (48) 3224-8846
Entrada gratuita

Visitação até 26 de abril de terça a sábado, das 12 às 19

Pensar o retrato de uma cidade para um documento de identidade, esse foi o desafio apresentado por Radilson, convencido de que uma cidade é feita pelo dia a dia das pessoas que a ocupam, que a habitam, que a configuram, mais do que por suas paisagens, construções e monumentos. Para além de seus habitantes ilustres ou históricos, há milhares de rostos anônimos que governam suas ruas. Além dos nativos, uma cidade é feita de e por pessoas que a adotam, que a frequentam ou que simplesmente passam por ela.

Durante um ano o fotógrafo se posicionou em praças, ruas e eventos de Florianópolis, conversou com quem passava e fez seus retratos com câmeras lambe-lambes antigas. Para o projeto, restaurou máquinas de 1915 e 1969 e construiu uma outra. Utilizou filmes de raio-X, nos formatos 9x13cm, 6x9cm e 13x18cm, revelando-os no interior das câmeras enquanto conversava com seus retratados. Os negativos são, portanto, maiores que os positivos em 3x4cm, permitindo igualmente qualidade nas ampliações maiores. Mesmo assim, o formato 3×4, típico das carteiras de identificação, permanece presente. Sustenta um projeto de identidade e memória, tão familiar às gerações que periodicamente se retratam para os inúmeros documentos, utilizando os mais diferentes processos, analógicos, digitais e eletrônicos. Nesta exposição, todo o processo analógico é evidenciado. Negativos, capinhas de foto 3×4, os tradicionais monóculos e as câmeras protagonistas convivem com tecnologias mais recentes.

Radilson parte da linguagem do retrato fotográfico, mas busca o sentido da fotografia de cidade, de rua, de paisagem, de arquitetura, da fotografia documental e jornalística e, igualmente, da arte contemporânea. Não é de hoje que a imagem de pessoas é utilizada para representar o perfil de uma instituição, empresa ou cidade e que modelos estampam cartões postais. Buscando um caminho diferente dos projetos que selecionam seus representantes, Floripa em 3×4 atreve-se a documentar mais de mil rostos de quem passa, vive e constrói Florianópolis. Constitui-se como uma amostra significativa que revela a diversidade étnica e cultural. Material adicional com depoimentos e dados evidenciam a origem, o pensamento e os projetos de vida da atual população, fixa ou móvel. Neste recorte, um quarto dos olhos que nos olham nasceu em Florianópolis, 28% vêm de outras 77 cidades catarinenses, 41% de outras 162 cidades brasileiras, com destaque para o Rio Grande do Sul com 17% da população local, Paraná com 8% e São Paulo com 7%. 48 cidades estrangeiras de 21 países contribuem com 6% dos habitantes. Florianópolis não é açoriana, africana, alemã, grega ou italiana; privilegiada ou modesta; aristocrática ou espontânea; tradicional ou alternativa. O rosto que a representa é o dessa mistura típica das cidades contemporâneas, em constante transformação. E é por entre mosaicos de identidades individuais que Radilson compõe um grande retrato da Cidade de Florianópolis.

Eneléo Alcides | Curador

Painel Retratos em 3x4 - População de Florianópolis/SC

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